sexta-feira, 31 de março de 2017

POEMAS DO VENTO
 
Por Joaquim A. Rocha



desenho de Rui Nunes


FIM E PRINCÍPIO 
 

Já ao longe vislumbro o teu exército.

O malvado, qual fera, vem-me atacar!

Os infantes apontam-me as suas

metralhadoras de cano negro;

são portadoras da fria morte!

Os teus aviões preparam-se para me bombardear.

Bombas gigantes estão a ser lançadas do espaço!

Os «drones» já descobriram o meu frágil corpo.

Os teu navios, vorazes monstros de guerra,

começam a vomitar a sua cólera incontida;

e as árvores, minhas protetoras,

caem como bebés: desamparadas e impotentes!

O teu juízo está feito. A tua sentença foi lida: 

condenação à fogueira!

Devo morrer, desaparecer da tua vida.

Devo mergulhar no esquecimento

como coisa, ou objeto coisificado!

As primeiras balas atingem-me.

As bombas começam a explodir.

O meu pobre corpo já não existe.

Está destroçado. Está reduzido

a pequenas partículas que as botas dos infantes

enterram na areia do deserto.

O oásis desapareceu. A vida pereceu.

Sobreveio-lhe a cruel lembrança…

O silêncio! Mas eis que a memória prevalece.

Existem as imagens retidas no armazém

do Tempo.

 Agora já não mais poderás destruir-me!

Nem com as tuas balas,

 nem com as tuas bombas,

nem com a tua indiferença.

Agora eu já poderei viver contigo!

Não podes afastar-me.

Não poderás fragmentar-me segunda vez!

O teu poderoso exército já nada

pode contra mim.

O teu príncipe sentirá ciúmes

da minha sombra invisível.

As tuas horas supremas de prazer, serei eu,

e não ele, quem tas proporcionará!

Em todas as tuas aflições, serei eu,

e não ele, quem tas ajudará a superar.

Eu sou uma ideia!

Eu sou uma não existência!

Não poderás, doravante, ignorar-me!

 

 

quarta-feira, 29 de março de 2017

MELGAÇO E AS INVASÕOES FRANCESAS
 
Por Augusto César Esteves





// continuação...

Administrando justiça de terra em terra, D. Sancho I, logo no princípio do seu reinado, aqui chegou certo dia para se entreter com os frades de Fiães. As testemunhas ouvidas nesta Vila pelos inquiridores de Afonso III, em 1258, dizendo-lhes a verdade sabida para apurarem os bens da coroa abusivamente extorquidos à matéria tributável pelos nobres, disso guardaram memória e os documentos conservados, em cópia, no Cartulário de Fiães não destroem, não ilidem e antes confirmam o facto. Se bem os interpreto, a sua síntese é esta: D. Afonso Henriques doou aos frades de Fiães o Reguengo da Senhora da Orada em 1173, sendo tenente da terra de Valadares D. Suerio Airas. // Este era um militar destemido e um homem de soberbia e truculento. Um dia, apoderou-se da vila de Figueiredo, na terra de Valadares, em São Miguel de Messegães, espoliando-a aos frades galegos de Celanova. Conservada muito tempo em seu poder, a granja acabou por diluir-se, aniquilar-se como unidade patrimonial privada e entrou no património da Coroa como reguengo d’el-rei. Outra vez, possivelmente nos fins do reinado daquele monarca, prendeu, agarrou um homem mesmo no mosteiro de Fiães, e enforcou-o! O desaparecimento desta vila arredondou os seus haveres, porque lhe permitiu apropriar-se daquele reguengo da Orada. Ora em certa ocasião, antes de 1189, veio cá D. Sancho I e ao ter conhecimento dos factos não repôs as coisas no seu lugar; antes as complicou, tirando aos frades e dando aos habitantes de Melgaço esta herdade e, havendo a granja de Figueiredo por sua, doou-a ao convento de Fiães. Posteriormente, por causa destas doações, o mosteiro de Fiães e os burgueses de Melgaço envolveram-se em questões e no tribunal pleitearam também Fiães e Celanova. Reivindicaram os fenalenses a vila da Senhora da Orada e vários outros prédios e negaram-lhos os habitantes de Melgaço. Quanto tempo assim andaram não se sabe, mas trinta anos depois, reinando já em Portugal Afonso II, fizeram uma transacção em Ourense reduzida a escrito na era de M.CC.L.VIII. IIII kalendas marcii.

     As questões entre o convento de Fiães e o de Celanova só mais tarde foram solucionadas e da maneira como se lê a folhas 102.º do Livro das Datas. E de um silhar se desprendem memórias do exilado de Toledo e de seu irmão. Os documentos falam disso e até o nosso foral manuelino ligeiramente a este alude. Mas, Alexandre Herculano, na “História de Portugal”, embora não deixe entrever a parcialidade de Melgaço a favor de Sancho nas lutas intestinas do país, sintetiza este período assim: [Melgaço oferece-nos a este respeito um exemplo curioso. São aí claros os indícios de que, apesar de ser uma povoação assaz importante para se organizar em 1258 pelo tipo de Salamanca, dando-se-lhe o foral de Monção, que pertencia a esta fórmula, nem por isso deixara de continuar a ser um grémio imperfeito composto inteiramente de tributários ou peões, como vimos que era na sua origem. Numa época anterior os vilãos de Melgaço tinham obtido de Sancho II o reduzir-lhes os direitos reais a uma renda certa, transferindo-se, além disso, para eles a apresentação do alcaide. Ainda em 1256 Afonso III confirmava esse contrato, e lhes dizia: «Mandai-me imediatamente um cavaleiro português que me faça menagem do castelo de Melgaço, tal que possa ter e defender o dito castelo e fazer dele direito»; ou porque os vilãos não houvessem cumprido a ordem de el-rei, ou porque abandonassem essa prerrogativa a troco de outras vantagens, dois anos depois, quando recebem o foral de Salamanca aparece inserida neste uma nova condição acerca do alcaide: «Devo eu nomear o alcaide que me faça menagem do castelo, e o dito alcaide deve guardá-lo sem vos fazer mal ou força e nada terá que ver convosco em vossa Vila, nem no vosso concelho, senão naquilo a que espontaneamente o chamardes.»]

     Ninguém conhece o paradeiro da carta escrita pelos juízes e concílio de Melgaço a Sancho I, nem o da resposta do rei, mas a opinião de Herculano assenta no foral por ele citado e neste pequeno documento de 1256, da Chancelaria de D. Afonso III:

«Confirmatio – Carte de Melgazo
 
     Alphonsus dei gracia Rex Portugalie et Comes Bolonie vobis judicibus et Concilio de Melgazo salutem. Vidi vestram cartam quam vobis dedit boné memorie Rex domnus Sancius suo sigillo sigillatam frater meus in qua carta continetur quod daretis sibi annuatim mille solidos legionensespro rendis quas habebet in ipsa villa de Melgazo et quod daretis sibi unum militem qui faceret menagium sibi de ipso castello de Melgazo. Et ego concedo vobis et confirmo ipsam carta supra dictam quam vobis dedit Rex domnius Sancius frater meus. Et mando vobis que tam cito mereatis mihi militem qui faciant mihi menagium de ipso castelo de Melgazo et ipse miles sit meus natural et sit talis qui possit ipsum castellum tenere et defendere et facere de illo directum. Unde aliud non faciatis. Data in Colimbria Rege mandante per Petrus martini petarinum viiii die Maij. Johannes Suerij fecit. Era M.CC.LX.iiij

// continua...            

domingo, 26 de março de 2017

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha 








- Dr. Luís Faria. Nasceu no ano de 1954, a 28 de Março, na Casa da Corga, freguesia de Remoães, unida à freguesia de Prado em 2013. Foi «professor do quadro de um Agrupamento Escolar, destacado na CPCJ (Comissão de Protecção de Crianças e Jovens).» Obras: «Contos da Raia», livro editado pela Papiro Editora em 2011. Lê-se na contracapa: «Os Contos da Raia são pequenas histórias romanceadas que acontecem, temporalmente, entre os anos setenta e os dias de hoje e, espacialmente, em toda a zona ribeirinha de Melgaço, Serra da Peneda e de Barroso, termas do Peso e Galiza. (…) Em Contos da Raia o leitor encontrará as mais deliciosas fábulas e lendas…» No ano de 2015 editou o romance «O Último Filho de Deus».   
 


- Manuel Henrique Rodrigues Beites. Nasceu na freguesia de Paderne por volta de 1956. Cresceu em Ramalde, Porto, até aos dez anos de idade. Estudou no Colégio da Barbosa, Melgaço, até aos quinze anos de idade. Completou o curso no liceu Sá de Miranda, Braga. Nessa altura emigrou, mantendo-se no estrangeiro até aos trinta e dois anos de idade. A partir dessa fase da sua vida estabeleceu-se na Maia como consultor comercial. Aos quarenta e nove anos de idade publica o seu primeiro livro. Obras: «Amor e Ódio na Fronteira», Vila Nova de Gaia, editora Ausência, 2005, com o apoio da Câmara Municipal de Melgaço; «Vertigens», Porto, Triunvirato, 2005.   

quinta-feira, 23 de março de 2017

LEMBRANÇAS AMARGAS
(romance)
 
Por Joaquim A. Rocha 



desenho de Luís Filipe G. Pinto Rodrigues

XIV

Hesitei em dizer-to: agora já sabes!

 
     Dois homens, meus clientes e amigos, sabiam da marosca; contudo, não se queriam comprometer, passar por abelhudos. Vim a saber mais tarde que tiveram o seguinte diálogo:

 
- Não sei se o avisaremos, a Bera anda a fisgá-la e o crédulo rapaz desconhece tudo, um dia destes ela está casada, arranca para a França com o Artur da Teresa, e o pobre desgraçado apanha um desgosto que nunca mais terá cara para aparecer a ninguém, ele já é um pouco tímido, coitado, a mãe apanha cada borracheira, não ganha juízo aquela pobre de Cristo, nem merece este filho, é um ótimo rapaz, e agora isto, é demais, ainda por riba está quase a ir para o serviço militar, já está apurado na inspeção médica.

- Eu acho que devíamos avisá-lo, pelo menos ficava prevenido, olha que as mulheres são de se lhe tirar o chapéu, aparece por aí um tipo com umas coroas e ela vai de se lhe entregar; nem sequer respeitam os compromissos já assumidos, o que elas querem é a nota, boa roupa, boa comida, pinturas, botar figura, mas olha que quando for para a França ela vai ver, terá de trabalhar como uma escrava, limpar o esterco dos outros, que as francesas não fazem nada, são as criadas que lhes fazem tudo, ela se casasse com o Cândido seria pobre, mas era dona da casa dela, assim vai ser criada de servir de uma estrangeira, o que ela pensa, que vai para lá passear?

- Ouvi dizer que o Artur vai levar o sogro com ele, já andam a tratar disso, até parece que é tudo um negócio, vende a catraia e consegue ir para França com o genro, ao que nós chegamos, nunca esperei ver isto, olha que no meu tempo de rapaz havia mais seriedade no casamento, agora aparecem por aqui no verão, arranjam rapariga e casam, nem chega a haver namoro, o matrimónio assim nem é abençoado por Deus, ouvi dizer que anda por aí um emigrante dos Arcos de Valdevez à procura de noiva, diz que tem oitocentos contos de réis no Banco, quem mos dera, parece que a Sofia do Bogas vai casar com ele, a mastronça, já andou com um e com outro, a coisinha dela deve assemelhar-se a uma peneira rota, a um longo túnel, e olha que ainda não tem sequer dezanove anos de idade, começou cedo a galdéria. Os pais dela não vão com certeza perder esta oportunidade!

- O Cândido é um ingénuo, um parvalhão, um lorpa; eu se fosse a ele desligava logo, nem lhe olhava para a cara, que ela é um pedaço de mulher, lá isso é, boa que se farta, o Artur teve olhinhos, olha se ele foi buscar outra, havia por aí ainda raparigas solteiras e descomprometidas, agradou-se desta, pudera! Bonita e boa, com um namorado pacífico. O Cândido bem lhe pode dizer adeus, se calhar nem sequer molhou a sopa, que ele é um anjinho, devia estar à espera da noite do casamento, ao menos tivesse aproveitado, mas o palerma pensava que ela não lhe fazia esta patifaria, não conhece as mulheres, são capazes de tudo, só querem luxo, andar de carrinho, dar nas vistas, causar inveja às outras, agora que chupe no dedo, e que não se ponha a pau, não, que o Artur é um latagão e ainda o estoira de pancada se ele lhe disser alguma coisa, coitado, não lhe queria estar na pele, mas ele também não se vai meter com ele, quando souber é bem capaz de se pôr a choramingar como uma donzela, coitadito, tão sensível.

- Lá diz o ditado: «o marido cornudo é o último a saber», ele ainda não era marido, mas era como se fosse, nós já o considerávamos como tal, aos anos que eles se namoram, e a família, não viam outra coisa: «o nosso Candinho», só conversa. Agora já estão ao lado do emigrante: «tão bom rapaz, trabalhador, poupado…» Logo viraram o bico ao prego, oportunistas é que eles são, não deviam pactuar com esta maldade, isso não se faz, não sei qual é a opinião do padre Alberto, mas olha que ele não deve ter gostado desta vil e feia ação, mas claro vai ter de os unir pelos laços do matrimónio.                    

- Ó Chico, o que os padres querem é maçaroca, e olha que o Artur é bem capaz de lhe untar bem as mãos, de lhe dar uma boa nota, das maiores, que ele tem pressa e não quer perder a noiva, o sacerdote que lhe apresse o matrimónio, que ande depressa com a papelada, um mês voa.

- Ó Tónio, cá na minha, penso que o moço devia ser avisado, o rapaz vai ter um chelique quando souber.

- Que se cozam, depois ainda dizem que a gente anda a intrometer-se na vida deles; olha, mulheres há muitas, quando vier da tropa que arranje outra, o futuro a Deus pertence, eu não me meto nisso, se quiseres avisá-lo avisa-o, mas não me impliques a mim nesses imbróglios. // continua...    

 

segunda-feira, 20 de março de 2017

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha 





roubos

NUNES, Hilário. Filho de José Maria Nunes e de Maria Luísa Solha, lavradores, residentes no lugar de Pomar. Neto paterno de Manuel Joaquim Nunes e de Teresa Esteves; neto materno de Manuel António Solha e de Antónia Casimira Pereira. Nasceu em Penso a 29/1/1877 e foi batizado nesse dia. Padrinhos: José Joaquim Rodrigues, casado, rural, e Maria Ludovina Rodrigues, solteira, camponesa, ambos moradores no lugar das Lages. // Era solteiro, militar, quando casou na igreja de Penso a 23/8/1899 com Maria Pereira, de 21 anos de idade, solteira, camponesa, sua conterrânea, filha de Carolina Pereira. Testemunhas presentes: António Solha, casado, e Bernardino Pires, solteiro, rurais. // Em 1933 queixava-se de que lhe tinham furtado sete cestos de milho do canastro (Notícias de Melgaço n.º 197, de 11/6/1933). // Em 1936 morava no sobredito lugar de Pomar, quando os gatunos lhe roubaram duas cabras, das melhores que possuía no rebanho (NM 333).

*

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 224, de 4/3/1934: «Na noite de 22 para 23 do mês findo foram assaltadas algumas casas na freguesia de Remoães, mas felizmente os seus proprietários só apanharam o susto, devido à rápida intervenção dos habitantes daquela freguesia, que puseram os gatunos em debandada

                                   *
 
FERNANDES, Baltazar. Filho de Francisco António Fernandes e de Maria Clemência Vilas, lavradores, residentes no lugar de Barro (ou Bairro) Pequeno, freguesia de Penso. Neto paterno de Luís Manuel Fernandes e de Maria Luísa Fernandes, do lugar de Casal Maninho; neto materno de Manuel Luís Vilas e de Maria Joaquina Alves, do lugar de Pomar. Nasceu em Penso a 2/5/1873 e foi batizado na igreja católica dois dias depois. Padrinhos: Vicente Vaz e sua esposa, Maria Emília Esteves Cordeiro, rurais, da Casa do Campo. // Casou com Ermelinda de Faro. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 233, de 27/5/1934: «A noite passada (17 de Maio) roubaram aos senhores Baltazar Fernandes, Libério Esteves, e Manuel Esteves Reguengo, o milho que tinham em três moinhos sitos nos limites do lugar de Pomar. Apresentada a queixa hoje de manhã ao senhor regedor, esta autoridade passou buscas em duas casas do lugar de Mós, não tendo encontrado o milho furtado àqueles senhores, porém, numa delas encontrou, dentro de uma caixa, um saco com cesto e meio de espigas. Interrogados os donos da casa, disseram que lhas tinham emprestado uma pessoa do lugar das Lages, a qual confirmou esta declaração, tendo por isso o senhor regedor abandonado as investigações. Com espanto de todos, essa pessoa das Lages veio agora dizer que não lhe tinha dado nenhumas espigas, e uma filha de um dos queixosos viu passar esse indivíduo junto da sua casa, pela uma hora da noite, com um grande saco às costas. O senhor regedor comunicou o caso superiormente. Oxalá venha a saber-se quem não teve pejo de ir roubar, principalmente, um dos queixosos, que tem os filhos com fome.» // Morreu em Penso a 2/5/1953. // Com geração. 
                                                            

sábado, 18 de março de 2017

LINA - Filha de Pã
(romance)
 
Por Joaquim A. Rocha



desenho de Rui Nunes

7.ºcapítulo (continuação)


     O plano está em andamento. Havia, no entanto, um pormenor que tinha de apurar. Como explicar à Umbelina que só restava uma criança? Teria de agir assim: depois do suposto parto informá-la-ia, a fim de não desconfiar da tramóia, que a criança dela, Lina, morrera ao nascer, e desse modo não a fora registar, nem dera a conhecer isso a ninguém; o bebé da caseira seria o dela. Umbelina calava-se bem calada, não faria perguntas impertinentes, pois além de analfabeta era também um tanto ou quanto bronca. Segredo contra segredo. Tudo perfeito. Na mesa, à hora do jantar, ou ceia, Lina conversa com o comerciante:
- Manuel, estás quase a ser pai. Espero que seja um rapaz, bonito e forte como tu. O nome já está escolhido, lembras-te?
- Lembro-me perfeitamente. Não precisas de alguém que te dê uma mão nestes dias?
- Já tratei disso. Uma rapariguita de Cartagães, chamada Joana, vem ajudar-me. É filha duns caseiros. É educadinha e respeitadora. Quer ser criada de servir, oxalá tenha sorte, como eu tive. Outra coisa: os papéis do casamento, estão a andar?
- Por causa da carta de condução deixei atrasar isso, mas não te preocupes: prometi casar contigo e não vou dar o dito por não dito – os castrejos só têm uma palavra. E além disso, como é que eu ia viver sem ti a meu lado? Tu és uma bruxa, enfeitiçaste-me!
- Sou a tua fada boa, e ainda bem. Só quero que sejas feliz à minha beira; és boa pessoa, honesto e trabalhador, e por isso mereces tudo de bom.  
     Ele deliciava-se com estas palavras. Era bom ouvir falar bem dele. Deleitava-o. Em Castro da Serra não havia desses mimos. As pessoas eram rudes, embora sensíveis, pouco faladoras, evitando a todo o custo o elogio fácil. Mediam as palavras, pesavam-nas na balança da sobriedade, e desconfiavam daqueles que as desperdiçavam. Tinha custado imenso a aprendê-las e agora não as podiam gastar de qualquer maneira. Tal como o dinheiro, a palavra valia pela sua raridade e critério de seu uso.
     Finalmente chegou o dia da tão aguardada paridela. O plano fora cumprido até ao ínfimo pormenor. A Umbelina tivera há dias dois rapazes e um deles escondeu-o até dos irmãos, à excepção da irmã mais velha, a Joaninha, a quem deu algumas informações, só as necessárias. Estava destinado à senhora Lina e esperava que esta o fosse buscar.    
     Nesse dia especial o senhor Manuel fora a Valença fazer o exame de condução, só voltaria à tardinha. Se tudo corresse bem, como previsto, iria ter uma agradável surpresa à chegada: estaria à sua espera o tão desejado filho!
    Logo que o patrão saiu, a Lina mandou um rapazito a Cartagães, a casa da senhora Umbelina, com um recado especial: «podiam trazer a encomenda.» «Ah! E não te esqueças de trazer duas galinhas que já estão pagas. Só isso.» E repetiu o recado duas ou três vezes para o miúdo não se esquecer. «Que jeito dava ter um telefone» - pensou ela.
     A mulher deu ordens à filha para levar a criança à Vila. As galinhas foram entregues ao rapaz. Pelo caminho ainda alguém perguntou à Joana:
- Que levas aí tão escondidinho?
- É um bacorinho; não pode apanhar frio.
      Lina preparou tudo. Matou as galinhas, cujo sangue espalhou pelos lençóis; depois olhou para o bebé, deu um jeito nos pêlos das pestanas, a fim de parecer que era um recém-nascido, acabado de sair do seu ventre. Colocou-o num bonito berço, adquirido recentemente, preparou leite para lhe dar quando tivesse fome, já tinha fraldas para ele, estava tudo em ordem. Olhou para um espelho que tinha no quarto e comentou: «és genial, Lina: ninguém te leva a palma!» Depois chamou a rapariga e começou a dar-lhe instruções:
- Daqui a pouco chega o senhor Manuel, o pai do Leandro. Tu só falas se te perguntarem alguma coisa. Antes de ele chegar eu vou para a cama; já vou ter contigo à cozinha para te ensinar a fazer canja para mim. Tu e o senhor Manuel vão comer massa com carne de galinha. Temos que pô-la já a cozer.
- Está bem, patroa. Eu faço tudo como a senhora manda.
 
 
 
    
     A moça era esperta e aprendia tudo depressa. A carne já estava a cozer, tinha agora que preparar o refogado para depois confeccionar a massa com carne de galinha. A senhora Lina já lhe pusera ali a quantidade de sal necessário, não fosse salgar a comida. Tudo em ordem. O dono da casa devia estar a aparecer. A carreira que vinha do concelho vizinho costumava chegar por volta das seis da tarde. Mais meia hora e ei-lo a surgir radiante, pois de certeza que ficara bem no exame de condução. Nem podia ser de outro modo: o dinheiro que dera àquela malta chegava-lhe a ele para comer um mês! Gatunos! Todos se aproveitavam. Mas se não desse, reprovava! O que é que aprendera na escola? Quase nada! O código era difícil para raio! Aqueles sinais, aquelas regras, aquilo só para doutores! As subidas eram uma dor de cabeça: a embraiagem ia-se logo abaixo. A condução era fácil quando circulava nas rectas, logo que se aproximava uma curva estremecia – o carro fugia para o meio da estrada, e o instrutor dava logo um grito: 
- Senhor Manuel, o senhor quer matar-nos? – perguntava, meio a rir meio a sério.
- Não, homem, não! O volante é que não obedece.
- Lembre-se sempre que o trânsito é feito em dois sentidos – nós vamos nesta direção e os outros carros vêm na direção contrária. Logo, a estrada tem de dar para ambas as viaturas. Se o senhor ocupa o espaço que pertence a outro condutor sabe o que acontece?
- Um choque frontal!
- Exactamente. E haverá feridos e até mortos. Por isso temos de respeitar os espaços, para nossa própria segurança. E não acelere muito, pois esta estrada é pouca larga e o perigo espreita a todo o momento.
     Ele ouvia com paciência o instrutor, o hábil especialista, mas o seu cérebro já estava adormecido, atrofiado, por pouco usado, para aceitar mais conhecimento. Dos genes herdados, os melhores já tinham partido. «Burro velho não aprende línguas» - costumava-se dizer. E também se dizia: «é muita areia para a minha camioneta!» E de facto era assim. A sua esperança era a futura experiência; com ela tudo se resolveria. Por outro lado, também não havia muitos carros na estrada, a maioria do povo era pouco mais do que pobre, não tinha dinheiro para esses luxos.
     Finalmente chegou a casa. Ia eufórico. Tinha passado. Agora trataria da papelada, detestava a burocracia, mas tinha de ser, até pensava encarregar o solicitador de tratar de tudo. Tinha de lhe pagar, é certo, mas não havia de ficar por uma fortuna, e assim livrava-se dessas canseiras burocráticas. O carro, já tinha decidido, comprava-o no Porto, o dono do «stand» trazia-lho a Melcarte. Antes de se aventurar até à cidade, andaria aqui pelo concelho; quando tivesse experiência bastante já iria mais longe. Os seus conterrâneos roer-se-iam de inveja.       

quinta-feira, 16 de março de 2017

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha






cartas de um castrejo

24.ª - «Senhor Redactor: as nossas previsões, que não passaram além de nós e do nosso quartinho de trabalho, vão-se realizando. O comportamento incrível, de há muito, dos soldados da Guarda-Fiscal, fere a nossa dignidade de povo trabalhador, pacífico e livre, e revolta-nos pelo seu atrevimento, pelos actos mais condenáveis e que as autoridades competentes indubitavelmente condenarão, pois já tais actos estão sob a sua alçada. Enquanto a nossa consciência de castrejo puro, e de amante da terra que lhe foi berço, protesta com a veemência mais alçapremada, contra o ignóbil atentado feito à dignidade incontestável e incontestada de um venerável ancião, de um indefeso, de um bom, por fim, - atentado praticado por um soldado ou soldados da referida corporação. Revolta-nos, indigna-nos, esta violência; e este povo teve mais uma vez a consciência dos seus deveres, não linchando o atrevido. Um guarda-fiscal é um soldado da República e um cidadão, que deve estar convicto dos seus deveres cívicos. O respeito aos velhos é sagrado, quer sejam mendigos quer ocupem um lugar de destaque na sociedade, são sempre velhos, são sempre alvo de atenções dos homens cônscios dos seus deveres. O guarda-fiscal, que esbofeteou um velho venerando, não deve continuar a usar a farda de uma corporação a todos os respeitos digna, porque a enxovalha. Eis os nossos brados mal contidos. E se, como creio, forem urdidas acusações baixas e calúnias forem alevantadas contra o povo castrejo pelos (…) soldados da Guarda-Fiscal (…) as autoridades competentes chamem os aposentados que passaram por aqui (…) digam o quanto os estimávamos e respeitávamos. – Quem se transformaria? Nós ou a Guarda-Fiscal destacada aqui e nos postos circunvizinhos? Senhor Chefe desta secção e demais superiores hierárquicos da Guarda-Fiscal até ao Ministro das Finanças: é indispensável, reclama-o a dignidade de um povo ofendido, na pessoa veneranda e querida do seu pastor espiritual, que o soldado ultrajador receba um castigo à altura da sua façanha; e, até, uma casa de correcção o habilite a ser bom soldado, pois os anais da história que compulsamos só nos indicam inúmeros actos de heroísmo praticados pelo soldado português, desde Ourique a Naulila – e é indigna de sê-lo por envergonhar a farda, quem esbofeteia um velho venerando! // As últimas chuvas prejudicaram extremamente a colheita dos fenos, recompensando-nos, por outro lado, no bem que fizeram aos batatais, que têm um aspecto excelente. // Começam as segadas… / Castro Laboreiro, 27/7/1916.»        

terça-feira, 14 de março de 2017

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha



desenho de Manuel Igrejas

casas


     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 335, de 13/12/1936: «As Casas do Povo (…) ocupam um lugar primacial na vida rural, tamanha é a sua esfera de acção e tão longe essas Instituições podem levar aos trabalhadores rurais a influência do seu benefício. Representam elas o primeiro passo para uma assistência material, moral e cultural, às populações rurais, sempre tão esquecidas, embora dignas – como nenhumas outras – de protecção, amparo e infatigável solicitude. / Só quem está em contacto com a gente do campo pode ver e sentir a sua miserável condição social. / Não basta apenas a assistência de momento, que as classes mais abastadas lhes prestam nas horas mais graves e mais agudas da sua miséria, é necessário que através das Casas do Povo se possa tornar efectiva e obrigatória a previdência social, para que ela possa abranger todos os trabalhadores rurais. / O objectivo das Casas do Povo, segundo o decreto-lei de 23/9/1933, tem por fins: - Em matéria de previdência e assistência – obras tendentes a assegurar aos sócios protecção e auxílio nos casos de doença, desemprego, inabilidade e velhice. – Em matéria de instrução – ensino aos adultos, às crianças, desportos, diversões e cinema educativo. / Sobre progressos locais – cooperação nas obras de utilidade comum, comunicações, águas, higiene pública. / Não podem tratar de actividade política e social contrária aos interesses da nação, mas podem promover a organização de sociedades cooperativas de produção e consumo… / Os fins de previdência podem ser realizados pela criação de mutualidades, para fins de assistência. / Entram na esfera de acção das Casas do Povo os dispensários, lactários-creche, e asilos para velhos e crianças. / Quanto a fins de instrução, temos a criação de pequenas bibliotecas, escolas ou postos de ensino, tendo em vista o aperfeiçoamento profissional e uma educação que permita a obtenção dum nível social mais elevado. / Para se obter os benefícios que as Casas do Povo podem oferecer aos trabalhadores rurais basta apenas que os mesmos se inscrevam e paguem a módica quantia de 1$00. / Os proprietários rurais são sócios protectores natos, com a quota mínima de 5$00. O próprio Estado, desde que as mesmas preencham certas condições, pode dotá-las com 5.000$00… (Do jornal “A Terra”).» // Em Melgaço nunca existiu, que eu saiba, antes de 25/4/1974. // Em 1963 devia estar prometida uma aos castrejos, pois Manuel Domingues, no Notícias de Melgaço n.º 1470, de 8/5/1963, pergunta: «senhores responsáveis, onde está a nossa Casa do Povo?» // O terreno para a construção desta obra (cerca de três mil metros quadrados), na sede do concelho, foi adquirido em 1988. O projeto previa «salas de aula para o ensino primário, secretaria para funcionamento da Casa do Povo e Centro Regional de Segurança Social, sala de convívio, bar, biblioteca e sala de reuniões.» Os responsáveis por estas Casas são os C.R.S.S. // Num anúncio, surgido em A Voz de Melgaço n.º 1006, de 1/5/1994, do Laboratório Dentário de Melgaço, diz-se que este laboratório está instalado «Na antiga Casa do Povo – Loja Nova.» // A Casa do Povo mudara para os lados do Centro de Saúde. Os vereadores do PSD perguntavam em 2000: «Saberá a população… que existe um edifício com este nome? É um imóvel novo, onde foram gastos alguns milhares de contos… Que serviço presta à população do concelho? Por quem será gerida?..» (VM 1144, de 1/9/2000). // Em 2006 tinha um núcleo de andebol: «... vem desenvolvendo uma actividade continuada de grande mérito, competindo em diversos escalões e (…) dando oportunidade a cerca de cinquenta jovens de praticarem a modalidade de que gostam» (Melgaço Hoje n.º 22, II série, de Setembro de 2006). 

 

sábado, 11 de março de 2017

A ADVERSIDADE POR MADRASTA
- romance -
 
Por José Alfredo Cerdeira




Prefácio
                                                                                 

     Este romance, o terceiro publicado pelo autor, conta-nos uma história extraordinária, mesclada de sofrimento, de injustiças, de crueldades, desespero, e por fim de esperança. Estamos, sem dúvida, perante uma tese bem elaborada: o ser humano é capaz de sobreviver a todos os malefícios, a todas as provações, desde que, no fim da corrida, algo - ou alguém - o espere para o compensar dos sacrifícios, dos esforços ciclópicos que a vida, ou o destino, quem sabe, as circunstâncias, lhe exigiram. Isto levar-nos-ia a especular sobre as nossas reais capacidades ou, então, a remeter-nos para o universo da ficção, onde tudo é possível e aceitável, e o exagero, sabiamente doseado, é um ingrediente indispensável.

     Quer se queira, ou não, ao iniciarmos a leitura deste livro entramos, quase sem nos apercebermos, dentro do enredo, tomamos partido, irritamo-nos com a injustiça, com a impunidade, sofremos com o sofrimento das personagens, partilhamos da sua imensa dor. No decorrer da narrativa, sem darmos por isso, uma lágrima traiçoeira baila nos nossos olhos, um grito de raiva e desespero sai dos nossos peitos, por nos acharmos impotentes face ao mal que está a ser perpetrado aos mártires, vítimas de atos apenas inventados, de crimes que não cometeram! Parece-nos estar a assistir ao difícil caminhar para a santidade: Raimundo, a personagem sofredora, percorre o caminho que o conduzirá ao “céu”; pelo contrário, outra personagem, Rosa, cheia de ódio e despeito, caminha, paulatinamente, devido aos seus planos inconcebíveis de vingança, próprios de uma mente perversa, executados com requintes de malvadez, para o “inferno”, para os braços escaldantes do diabo. Mas se o despeito nos leva ao crime, como habilmente defende o narrador, ai daquele que se atravesse na vereda do despeitado! A sua vida torna-se num turbilhão, num cadinho de todas as experiências maléficas!

       Outra tese, que está subjacente no romance, diz respeito ao perdão absoluto. Ao contrário daquilo que nos fizeram crer na catequese, quando éramos meninos, convencendo-nos de que só um deus tem o poder de perdoar, no romance o perdão é concedido por Raimundo, a personagem mártir! Obviamente que a tese vinga, pois ele, pelo seu sofrer, pela sua abnegação, o seu caráter impoluto, ganhou a santidade, tornou-se divindade, embora em grau menor, pelo que pode conceder essa dádiva, não como um deus do Olimpo, mas sim como seu intermediário, um mensageiro. O exemplo vem da igreja cristã ao canonizar alguns indivíduos, tidos como criminosos pela lenda, ou tradição, não tanto pela sua biografia, quantas vezes deturpada, ou mesmo ignorada; graças ao seu arrependimento, e aos supostos milagres subsequentes, ganharam um lugar no paraíso, onde outrora viveram Adão e Eva! Os conceitos religiosos estão patentes em toda a obra, são o sal que a tempera. A doutrina cristã: sofrimento, morte, ressurreição (em sentido figurado), percorre em ziguezague a narrativa, levando o leitor a compreender que a vida não é linear, mas sim eivada de coisas más e boas, numa mistura plenamente conseguida, na procura do prémio: a salvação da alma. O destino de cada um de nós está previamente traçado mas - mediante ações praticadas pela vontade individual ou coletiva - pode o mesmo ser alterado, é o livre arbítrio! A superstição, o espiritismo, surgem aqui e ali, sem grande relevo embora, a lembrar-nos que as gentes dos meios rurais e de montanha ainda conservam resquícios de outras eras, de tempos obscuros, e que os padres católicos ainda não conseguiram extirpar na sua totalidade, pois até eles próprios, por vezes, são atingidos por essas crenças e costumes ancestrais.  

     No primeiro romance apresentado pelo autor a personagem principal, histórica, o famigerado Tomás das Quingostas, morre às mãos dos soldados; no segundo romance, Morgado, sucumbe soterrado no antigo convento dos frades vítima da sua ambição; neste, Raimundo sobrevive, casa com Pureza, que sempre o amou, em silêncio, e por ele aguarda, anos a fio, mesmo sabendo que se voltar do desterro, a que fora condenado, não será para os seus braços, mas sim para os de Rosalina, cujo fim será trágico, por não ter conseguido ser fiel à sua palavra de adolescente. A morte funcionou como exemplar castigo! Não subiu ao pódio, porque desistiu, porque se cansou de esperar, porque sucumbiu às artimanhas e à chantagem da manipuladora madrinha! Só como heroína, senhora de uma fé inquebrantável, sem tergiversações, é que poderia, de vestido branco, imaculado, subir os degraus da igreja, sorridente, olhos brilhantes, ao lado de Raimundo.

      O contraste entre o espaço ao ar livre e o meio urbano é-nos apresentado de uma forma admirável. No primeiro, carecemos de quase tudo: eletricidade, água canalizada, transporte, escolas, mas possuímos liberdade; no segundo, temos as comodidades, mas falta-nos a alegria de viver! Poder-se-ia afirmar, como o fez o poeta: «está-se bem, onde não se está!» À medida, porém, que o ser humano se distancia da animalidade, a tendência é para viver na cidade, onde tem tudo à mão, onde se realiza como pessoa, embora, claro, se afaste da natureza, se prive da liberdade sem limites.        

      A paz, embora tardia, é alcançada finalmente pelo nosso herói. Não foi gorada a nossa expectativa. O tempo sarará todas as feridas provocadas pelos nefastos acontecimentos, apagar-se-á da memória o passado sombrio, e vingará o amor. Enfim, verificou-se a catarse, simbolizada pelo raiar do sol, pelo eclipse das nuvens que escureciam o caminho para a suprema felicidade, e – acima de tudo – a expiação.

           
Joaquim A. Rocha
 

                                                                             

quinta-feira, 9 de março de 2017

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha 





macróbios

ESTEVES, Rosa. Filha de António Esteves e de Maria Afonso, lavradores, residentes no lugar de Trigueira. Neta paterna de António Esteves e de Lina Cerqueira; neta materna de Francisco Afonso e de Maria Pereira. Nasceu em Parada do Monte a 21/12/1898 e no dia seguinte foi batizada na igreja paroquial. Padrinhos: os seus avós maternos, camponeses, residentes no lugar de Aldeia Grande. // Casou na CRCM com Porfírio Esteves no ano de 1919. // Enviuvou a --/3/1955 (confirmar). // Faleceu na sua freguesia natal a 19/4/1996, com 97 anos de idade.
 
 

ESTEVES, Rosalina. Filha de Joaquim Esteves e de Maria Alves, lavradores, residentes no lugar de Cortegada. Neta paterna de António Esteves “Travessa” e de Lina Cerqueira; neta materna de Manuel Alves e de Maria Lourenço. Nasceu em Parada do Monte a 8/7/1895 e no dia seguinte foi batizada na igreja paroquial. Padrinhos: Manuel Alves e Maria Alves, solteiros, camponeses, moradores no lugar de Cortegada. // Faleceu na sua freguesia de nascimento a 5/7/1994, com cerca de 99 anos de idade.

terça-feira, 7 de março de 2017

S O N E T O S
 
Por Joaquim A. Rocha 
 
 
obra de um escultor melgacense



(143)

 

 

Esculpi minha efígie em granito,

Ficou feia, horrível, quase esfinge;

Não se nota a boca, nem laringe,

É semelhante a Seth do Egito.

 

É um eco longínquo, maldito,

Que a minha débil mente atinge,

O meu frágil corpo e alma cinge,

Num abraço de morte, letal grito.

 

Queria desfaze-la, mas não posso,

Tornou-se verdadeira, ganhou vida;

 Apesar de estática, tem poder…

 

À sua volta nasceu lago ou poço,

Que lhe serve de forte, de guarida,

E de espelho d’água para se ver.

obra de um escultor melgacense