POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
GERINGONÇA
(II)
Geringonça
fez dois anos,
Fez
dois anos geringonça;
Os
benefícios e danos
Já
pesam mais do que a onça.
São
já vinte e quatro meses
À
espera de milagres,
Mil
discursos, entremezes,
De
Melgaço até Sagres.
Caiu
dinheiro do céu,
Melhoraram
as pensões,
Ao
Afonso e ao Abreu
Aumentaram
dez tostões!
O
ordenado cresceu
Tal
como a erva daninha,
Aventuras
de Teseu,
A
fortuna da tainha.
Viu-se
o “mínimo” trepar;
Mas
não chegou ao seis cento,
O
patrão vai adorar.
À
sede vamos morrer
Neste
Portugal hodierno;
Não
há água pra beber,
Isto
parece o inferno!
Só
vejo gente a chorar,
Pedir
chuvinha ao céu;
Só
nos resta implorar:
«Venha a nós o escarcéu.»
Não
há vento não há chuva
Só
calor e mais calor;
Seca
azeitona, a uva,
As
nozes mirram de dor.
A
castanha não cresceu
Diz-se,
por causa da dita;
A
água-pé esmoreceu,
Cheia
de mágoa, desdita.
Incêndios
na floresta
Crescem
cem todos os anos;
Para
uns é uma festa,
Para
outros são mil danos.
A
culpa morre solteira,
Foi
fulano ou sicrano;
Parece
mais brincadeira
Do
maganão zé beltrano.
Acusa-se
a natureza,
Acusam
incendiários;
Não
se sabe com certeza,
Devem
ser os mercenários.
A
polícia judiciária
Vai
prendendo os suspeitos,
Mas
a canalha alimária
Para
tudo tem seus jeitos.
A culpa é de São Pedro
que nos fechou a torneira;
foi iludido por Fedro,
num dia de borracheira.
Vamos
esperar outro ano,
Esquecer
este verão,
Pedir
ao bom deus Vulcano
Que
não queime o lusitano,
Leve
o fogo prò vulcão.
Sem comentários:
Enviar um comentário