domingo, 3 de dezembro de 2017

POEMAS DO VENTO
 
Por Joaquim A. Rocha
 
 
 
 
GERINGONÇA

(II)

 

 
Geringonça fez dois anos,

Fez dois anos geringonça;

Os benefícios e danos

Já pesam mais do que a onça.
 

São já vinte e quatro meses

À espera de milagres,

Mil discursos, entremezes,

De Melgaço até Sagres.
 

Caiu dinheiro do céu,

Melhoraram as pensões,

Ao Afonso e ao Abreu

Aumentaram dez tostões!
 

O ordenado cresceu

Tal como a erva daninha,

Aventuras de Teseu,

A fortuna da tainha.
 

 À sombra do orçamento

Viu-se o “mínimo” trepar;

Mas não chegou ao seis cento,

O patrão vai adorar.
 

À sede vamos morrer

Neste Portugal hodierno;

Não há água pra beber,

Isto parece o inferno!
 

Só vejo gente a chorar,

Pedir chuvinha ao céu;

Só nos resta implorar:

«Venha a nós o escarcéu
 

Não há vento não há chuva

Só calor e mais calor;

Seca azeitona, a uva,

As nozes mirram de dor.
 

A castanha não cresceu

Diz-se, por causa da dita;

A água-pé esmoreceu,

Cheia de mágoa, desdita.

 
Incêndios na floresta

Crescem cem todos os anos;

Para uns é uma festa,

Para outros são mil danos.

 
A culpa morre solteira,

Foi fulano ou sicrano;

Parece mais brincadeira

Do maganão zé beltrano.

 
Acusa-se a natureza,

Acusam incendiários;

Não se sabe com certeza,

Devem ser os mercenários.

 
A polícia judiciária

Vai prendendo os suspeitos,

Mas a canalha alimária

Para tudo tem seus jeitos.

A culpa é de São Pedro
que nos fechou a torneira;
foi iludido por Fedro,
num dia de borracheira.

 
Vamos esperar outro ano,

Esquecer este verão,

Pedir ao bom deus Vulcano

Que não queime o lusitano,

Leve o fogo prò vulcão.

Sem comentários:

Enviar um comentário